Uso de uma infusão contínua de lidocaína no tratamento de íleo em ruminantes e camelídeos
Apesar do íleo paralítico ser uma condição pouco documentada em ruminantes, a maior parte dos casos acontece numa situação pós-operatória. Atualmente, poucos são os estudos relacionados com os agentes que podem afetar a motilidade intestinal nestas espécies.
É com relativa frequência que a lidocaína é utilizada na medicina veterinária, não só como um anestésico local, mas também como agente antiarrítmico, anti-inflamatório e pro-cinético. No caso dos equinos, por exemplo, é utilizado com regularidade para tratar o íleo pós-operatório (POI).
O objetivo deste estudo retrospetivo foi determinar se o uso de uma infusão contínua de lidocaína na mesma dose e taxa aplicada em cavalos teria efeitos adversos quando administrada em ruminantes e camelídeos e também qual o efeito dessa administração.
O estudo incluiu 11 casos, sendo 8 bovinos, 1 caprino e 1 alpaca. As queixas eram todas relacionadas com patologia/doença intestinal e 8 dos casos foram submetidos a cirurgia exploratória antes da administração de lidocaína. O respetivo fármaco foi administrado inicialmente através de um bolus de 1.3mg/kg de lidocaína HCL 2% seguido de uma infusão contínua a uma taxa de 0.05mg/kg/minuto. A duração de tratamento foi, em média, 2.5 dias.
O sucesso do tratamento foi baseado num conjunto de fatores que incluíam uma alteração positiva no estado mental, aumento do apetite, produção normal de fezes, distensão abdominal mínima e motilidade intestinal presente e detetada através de ecografia. Tendo em conta estes fatores a curto prazo, 8 dos casos responderam favoravelmente e tiveram alta e 2 não mostraram quaisquer melhorias. No entanto, nestes 2 casos, um acabou por melhorar e ter alta, apesar de inicialmente ter piorado.
Como mencionado, os autores também pretenderam avaliar a possibilidade do aparecimento de efeitos adversos com o uso deste tipo de tratamento nestas espécies. Não foram notados quaisquer efeitos secundários neurológicos ou cardiovasculares, nomeadamente convulsões, fasciculações musculares, taquicardia e arritmia, entre outros.
Com a realização deste estudo, os autores puderam concluir que a administração de lidocaína sob a forma de infusão contínua e com doses extrapoladas a partir de cavalos é segura e, dado os resultados, sugere também que o seu uso é benéfico no tratamento de casos de íleo paralítico em ruminantes.
No entanto, dada a natureza retrospetiva deste estudo, estes achados podem ser apenas coincidência ou até influenciados pela interpretação pessoal do clínico responsável. Adicionalmente, o estudo é também composto por um grupo muito pouco representativo e não é um estudo controlado.