Qual é o protocolo de tratamento mediante suspeita de raiva num humano após mordida de um cão?

13 June 2023 -

A raiva é uma zoonose viral aguda que se propaga através de mordidas ou arranhões, principalmente transmitida pela saliva. Quando se começam a desenvolver os primeiros sinais clínicos, trata-se de uma doença fatal em humanos e animais.

A Espanha encontra-se atualmente em alto risco para o desenvolvimento de um surto de raiva devido à baixa taxa de vacinação canina, uma vez que cada Região Autónoma implementa regras de vacinação distintas. Na Galiza, País Basco e Catalunha não existe obrigatoriedade de vacinação e no caso das Astúrias, a vacinação é obrigatória apenas em cães potencialmente perigosos.
Neste artigo, apresentamos o caso de uma menina de 5 anos de idade que foi atendida nas urgências de um hospital espanhol após ter sido mordida por um cão. O acidente tinha ocorrido 3 semanas antes em Cochabamba (Bolívia), e o animal acabou por morrer com um diagnóstico compatível com raiva. A criança tinha a vacinação em dia, bem como imunização contra a hepatite A e a febre amarela. A profilaxia antirrábica não foi considerada antes da viagem para a Europa.

As características epidemiológicas do acidente foram avaliadas e foi efetuado um exame físico, tendo em conta a descrição do animal (cão doméstico com poucos cuidados de higiene e sem vacinação), o local onde ocorreu (no campo), o tipo de mordida (do lado esquerdo, superficial e com pouca hemorragia) e a atuação imediata (limpeza com água, lama e folhas).

A criança encontrava-se bem (assintomática). Detetaram-se, na zona costal esquerda, dois pontos de entrada hiperpigmentados sem sinais de infeção. Não sentia dor à palpação ou limitação durante a mobilização da área afetada.
O tipo de acidente e o exame físico faziam indicar um baixo risco de transmissão de raiva, mas não foi possível excluir a possibilidade de contágio. Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou que a Bolívia é um país onde a raiva é endémica (principalmente a região de Cochabamba).

Com base no acima exposto, o caso foi considerado de alto risco de infeção e foi iniciado o protocolo de profilaxia pós-exposição. Foi administrada imunoglobulina humana (20 UI/kg), metade na zona perilesional e a outra parte no músculo deltoide, bem como a primeira dose de vacina numa área distal à imunoglobulina (músculo deltoide contralateral). Posteriormente, a menina obteve alta para completar o regime de vacinação de 5 doses a partir dos cuidados primários.

Embora este seja um caso que originou na Bolívia, é muito importante educar a população sobre o facto de que a raiva é uma doença totalmente evitável. Os procedimentos essenciais para prevenir e controlar esta zoonose são: comportamentos responsáveis por parte dos tutores de cães (incluindo a vacinação contra a doença), prevenção das mordidas e oferecer cuidados imediatos às vítimas, além da limpeza das feridas e vacinação pós-exposição.

Fernández Prada; M. et al (2013) ¿Qué hacer en urgencias ante una mordedura canina con sospecha de rabia? A propósito de un caso. Lugar: Unidad de Gestión Clínica Medicina Preventiva, Vigilancia y Promoción de la Salud, Hospital Universitario San Cecilio, Granada, España. DOI:10.1016/j.anpedi.2013.08.002