Neurofilamentos de cadeia leve como biomarcadores de meningoencefalite de origem desconhecida em cães

13 June 2023 -

Os neurofilamentos (Nfs) são proteínas neurónio-específicas altamente expressadas nos axónios. Quando ocorre lesão axonal, os Nfs são libertados para o liquído cefaloespinal (CSF) e subsequentemente para o sangue. As concentrações de neurofilamentos de cadeia leve (NfL) no CSF e sangue têm demonstrado serem reflexo de dano neuroaxonal recentemente e, por isso, que podem ser potenciais biomarcadores de evolução de doença em humanos.

Os estudos com biomarcadores em doenças do sistema nervoso central (SNC) em medicina veterinária são raros e é importante que estes sejam fáceis de detetar e tenham elevado custo-benefício. Os NfL podem ser um potencial biomarcador para uso em veterinária uma vez que a sua concentração pode ser facilmente medida tanto no soro sanguíneo como no CSF.

Com este estudo, os autores colocaram a hipótese de que as concentrações séricas e no CSF de NfL aumentariam em cães com meningoencefalite de origem desconhecida (MUE).

Neste estudo retrospetivo foram incluídos 36 cães saudáveis e 38 cães diagnosticados com MUE. Os cães com MUE foram tratados com uma combinação de corticosteroide e outros agentes imunomoduladores, sendo que a dose do corticosteroide foi gradualmente reduzida e de igual forma ao longo de várias semanas até uma dose de manutenção. As concentrações de de NfL séricas e no CSF foram medidas no início e comparadas entre animais saudáveis e com MUE para avaliar as diferenças no momento de início de sinais clínicos.

No sentido de avaliar o efeito das convulsões nas concentrações de NfL, os cães foram divididos em 2 grupos: os cães com MUE que apresentavam convulsões e os cães com MUE que não apresentavam convulsões. Nestes grupos foi também medida a concentração sérica de NfL no início do estudo nos dois grupos para comparação no sentido de avaliar a utilidade deste biomarcador para convulsões em cães com a doença.

A concentração sérica do biomarcador foi também medida após tratamento ou antes da morte do animal e comparadas com as obtidas inicialmente para avaliação da utilidade dos NfL na resposta ao tratamento.

Após análise dos resultados, constatou-se que as concentrações séricas de NfL em cães com MUE era significativamente maior do que nos cães saudáveis. Adicionalmente, verificou-se que, apesar das concentrações do biomarcador em cães com convulsões serem superiores relativamente aos que não as apresentavam, essa diferença não era estatisticamente significativa. Os autores verificaram também que as concentrações do biomarcador diminuíram significativamente após tratamento e que aumentou significativamente nos animais que não responderam à terapia.

Uma nota importante é a dificuldade que o diagnóstico de MUE por vezes apresenta. A ressonância magnética tem elevada especificidade e sensibilidade no diagnóstico da doença. No entanto, neste estudo, alguns cães com a doença não apresentavam alterações. Adicionalmente, nesses mesmos animais, a citologia do CSF encontrava-se normal. Desta forma, um aumento da concentração de NfL pode suportar o diagnóstico de MUE em cães com suspeita da doença.

Em suma, apesar das limitações do estudo, os autores consideram que os NfL podem ser um potencial biomarcador de MUE, podendo ter um papel importante no diagnóstico e na avaliação da resposta ao tratamento.

 

Yun, T, Koo, Y, Chae, Y, et al. Neurofilament light chain as a biomarker of meningoencephalitis of unknown etiology in dogs. J Vet Intern Med. 2021; 35( 4): 1865– 1872.

https://doi.org/10.1111/jvim.16184