Insulina recombinante de ultralonga duração para o tratamento da Diabetes mellitus em gatos
A Diabetes mellitus (DM) é uma endocrinopatia comum em gatos e o seu tratamento depende da administração subcutânea (SC) de insulina uma a duas vezes por dia, juntamente com a alteração da dieta. Na maioria dos gatos este tratamento é para toda a vida.
Nos humanos sabe-se que o aumento da frequência de administração de qualquer fármaco diminui a adesão ao plano de tratamento. Pode-se antecipar que o mesmo acontece com tutores que têm de injetar os seus próprios animais de companhia.
Para os tutores de gatos, a necessidade não só da administração de injeções bidiárias mas também de horários específicos de alimentação, têm um grande impacto na qualidade de vida destes e dos seus gatos. Este tipo de tratamento e a preocupação inerente à possibilidade de terem de deixar os seus gatos ao cuidado de outros são grandes causas de ansiedade nos donos.
Neste momento, as formulações de insulina têm perfis de tempo-ação que permitem a sua utilização SID ou BID em injeções SC. Num estudo recente, foi apresentada uma nova forma de insulina (AKS-267c) que necessita apenas de uma administração semanal. A molécula ativa deste novo composto é uma fusão de insulina sintética com uma região das imunoglobulinas felinas cristalizável (Fc). Injeções semanais permitiriam um maior sucesso no tratamento destes animais devido à melhoria de qualidade de vida do animal e do tutor e, consequentemente, aumentariam a sobrevivência dos gatos.
Neste estudo de 2021 fez-se a transição do tratamento com insulina normal em gatos com DM não iatrogénica, para insulina combinada. Em 7 semanas de tratamento foi atingido o controlo da glicemia, sinais clínicos e peso corporal, sem efeitos adversos ou hipoglicemia clínica, o que oferece benefícios consideráveis a tutores e animais.
Esta insulina de ação ultralonga deve ser usada com cuidado, especialmente aquando da proximidade de um estado euglicémico e com gatos em que o diagnóstico foi feito recentemente, já que a glucolipotoxicidade pode levar a um excesso de sensibilidade à insulina, pondo os animais em risco de cetoacidose.
No entanto, esta nova fórmula parece ser vantajosa na diminuição da variação diária da glicemia, tornando mais fácil e barata a sua monitorização a longo prazo. Será importante desenvolver parâmetros de monitorização contínuos de glicose específicos para gatos, de forma a maximizar o seu uso. Para além disso, também é importante definir protocolos para a introdução deste tratamento em gatos diagnosticados recentemente e para felinos que estejam em situação de transição da insulina comum para a insulina combinada.
Gilor, C, Hulsebosch, SE, Pires, J, Bannasch, MJ, Lancaster, T, Delpero, A, Ragupathy, R, Murikipudi, S, Zion, T, An ultra-long-acting recombinant insulin for the treatment of diabetes mellitus in cats, J Vet Intern Med. 2021;35:2123–2130. DOI: 10.1111/jvim.16150