Hepatite por parvovirus equina

Em 1918 a doença de Theiler foi descrita na África do Sul, num grupo de cavalos ao qual tinham sido administrados produtos biológicos de origem equina. Esta doença caracteriza-se por necrose hepática aguda e insuficiência renal fulminante. Geralmente o seu aparecimento está relacionado com a administração de produtos biológicos de origem equina como: plasma, toxina antitetânica, toxina antibotulínica, células estaminais alogénicas, entre outros. No entanto, a doença de Theiler também já foi descrita em cavalos aos quais estes produtos não tinham sido administrados e em animais sem história de contacto com outros animais doentes.

Durante muito tempo, não existiu nenhum agente associado à doença de Theiler, mas, em 2018 o parvovírus da hepatite equina (EqPV-H) foi identificado no soro e fígado de cavalos diagnosticados com esta doença. O EqPV-H é um vírus hepatotrópico, com distribuição mundial, que está associado a casos de hepatite severa e subclínica em equinos, sendo possivelmente o agente responsável pela doença de Theiler.
Os sinais clínicos da doença de Theiler são icterícia, letargia, inapetência e sinais neurológicos, geralmente associados a um aumento das enzimas hepáticas e à presença de anticorpos contra o EqPV-H (estes anticorpos também foram descritos em animais assintomáticos). O quadro clínico desenvolve-se 4 – 10 semanas após contacto com o agente e na maioria das vezes é fatal.

As formas de transmissão do EqPV-H ainda não estão totalmente compreendidas. A transmissão através de vetores poderá explicar a presença da doença de Theiler em cavalos que não tiveram contacto com outros animais infetados, nem história de administração de produtos biológicos de origem equina, mas esta via de transmissão ainda necessita de ser verificada através de estudos científicos. O EqPV-H deve ser investigado em todos casos de hepatite tanto clínica como subclínica e especialmente em casos com história de administração de produtos biológicos de origem equina. Quanto mais informação existir relativa à transmissão, mais fácil será a implementação de medidas preventivas.

A consciência do risco, tanto por proprietários como por médicos veterinários, é de extrema importância aquando da administração de produtos biológicos de origem equina. Ainda há pouca informação sobre este vírus, que está associado a uma doença fatal. São necessários mais estudos científicos para compreender como as populações de equinos são afetadas e quais os seus efeitos em casos subclínicos.

Ramsauer, S. et al. (2022) ‘Equine Parvovirus Hepatitis”, Equine Veterinary Journal. 53 pp. 886-834

Doi: 10.1111/evj.13477