Farmacocinética do Canabidiol em Vitelos

O Canabidiol (CBD) tem sido cada vez mais estudado devido aos seus efeitos analgésicos, anti-inflamatórios, antioxidantes, ansiolíticos, anticonvulsivos e citotóxicos em células cancerígenas. Existem estudos tanto em humanos como em animais e já é largamente utilizado em humanos e cães. No entanto, existe muito pouca informação sobre o seu efeito em animais de pecuária.

Um estudo recente avaliou, pela primeira vez, a farmacocinética do CBD em vitelos, após uma toma única por via oral que garantia uma dose de 5mg/kg de CBD.

Considerando os múltiplos estudos sobre este princípio ativo, o CBD parece ter muito bons efeitos terapêuticos sem efeitos secundários associados. Nos estudos realizados com cães, foi concluído que a administração oral resulta em maior biodisponibilidade do composto comparativamente à administração transdérmica. Também se comprovou que o CBD aumenta o conforto e o nível de atividade em cães com osteoartrite. Em cavalos, o CBD demonstrou efeitos positivos na redução de dor crónica e ansiedade.

Em espécies pecuárias, existe um estudo anterior que avalia a farmacocinética do Ácido Canabidiólico (CBDA), componente precursor do CBD, no qual se concluiu que a meia-vida média seria de 14,1h, o que se revela bastante superior aos valores reportados para o CBD em cães. No presente estudo, Meyer et al, reportam uma meia-vida de 23h (superior à do CBDA). Estes dados apoiam a hipótese de que os canabinóides persistem mais tempo em vacas do que em cães. Neste estudo, os animais eram jovens, sendo que a absorção dos fármacos ainda deverá acontecer de forma similar a um monogástrico. No entanto, é necessário avaliar como é que esta farmacocinética irá variar em ruminantes adultos com os quatro estômagos funcionais.

Como este estudo foi desenhado a partir de outros estudos veterinários feitos em cães, será necessário, em futuros estudos, avaliar os níveis plasmáticos de forma mais extensa para que possa ser determinado o momento de eliminação completa do CBD do plasma e definir o intervalo de segurança em espécies pecuárias para consumo.

Este estudo também alerta para as variações na quantidade de CBD em óleo. As quantidades variam entre produtos de empresas diferentes, seria importante estabelecer protocolos de preparação destes produtos. A composição destes produtos também é altamente dependente da estabilidade do produto. Outros estudos reportaram que estes produtos perdem 15-20% dos canabinóides nos primeiros 14 dias de armazenamento a 4ºC no escuro, mas depois mantêm-se estáveis até 1 ano depois. A exposição ao oxigénio é também um fator que acelera a degradação da quantidade de canabinóides presente nestes óleos.

Estas variações devem ser consideradas aquando destes estudos em animais e humanos, já que podem variar os resultados.

Em conclusão, este é um estudo importante e pioneiro neste assunto, mas são necessários mais estudos para poder avaliar a eficácia do CBD como agente terapêutico em espécies pecuárias, com potencial a ser usado para controlo de dor, estimulação do apetite e modulação inflamatória.

Meyer, K, Hayman, K, Baumgartner, J, Gorden, PJ, Plasma Pharmacokinetics of Cannabidiol Following Oral Administration of Cannabidiol Oil to Dairy Calves, 2022, Frontiers in Veterinary Science, Vol.9 – https://doi.org/10.3389/fvets.2022.789495