Desenvolvimento de um guia para a identificação das emoções felinas
Os veterinários de clínica mista e de animais de companhia avaliam com frequência o comportamento felino de forma a garantir uma interação segura e monitorizar o bem-estar dos gatos. Caso esta avaliação seja incorreta, o resultado pode ser uma situação de stress para o animal e de potencial lesão para o médico veterinário. As lesões causadas por gatos são comuns na clínica e tem impactos económicos. Estudos indicam que quanto mais inexperiente o clínico, maior a probabilidade de ocorrer um acidente.
Para os doentes felinos, o ambiente veterinário pode ser desafiante e, com o intuito de melhorar o seu bem-estar e reduzir o risco de lesão do pessoal clínico, os autores deste estudo desenvolveram um guia que divide os comportamentos felinos em emoções. Foram definidas cinco emoções: medo, raiva, alegria, contentamento e interesse. Dez imagens foram selecionadas e validadas por especialistas em comportamento felino entre cerca de 300. A criação deste guia serve como forma de diretriz para a interpretação das emoções desta espécie pelos médicos veterinários, mesmo em ambientes de elevada pressão. A literatura neste tópico é limitada, mas é de extrema importância que os comportamentos positivos não sejam negligenciados. Quanto às emoções que representam uma ameaça para o bem-estar animal e que aumentam o risco de acidente, podemos mencionar o medo e a raiva. São emoções muito diferentes e com motivações distintas. A raiva é geralmente uma consequência de frustração, que se manifesta através de mordidas, destruição das jaulas, etc; por vezes estes animais apenas necessitam de um intervalo na manipulação e alguma paz. Por outro lado, o medo é o resultado da perceção de perigo, e a estes gatos deve ser dada a oportunidade para se esconderem.
O uso deste etograma pode reduzir significativamente o risco da manipulação de felinos e, ao mesmo tempo, melhorar o seu bem-estar em situações de clínica. Ao contrário de outras fontes, este guia pode ser usado no momento da interação e ajudar o veterinário a responder de imediato a qualquer alteração que possa influenciar o bem-estar animal. No entanto, devemos ter em conta que este guia apenas tem efeitos a curto prazo.
No futuro, este etograma pode ser adaptado a outras espécies, podendo ser necessário incluir um número maior de emoções. A sua fiabilidade ainda necessita de confirmação e é necessário comprovar se será realmente útil na prática clínica. No entanto, pode ser uma grande ajuda na identificação das emoções felinas.
Nicholson, S. L. and O’Carrol, R. A. (2021) ‘Development of an ethogram/guide for identifying feline emotions: a new approach to feline interactions and welfare assessment in practice’ Irish Veterinary Journal, 74 (8)