CASE REPORT: Suspeita de Osteossarcoma radioinduzido num gato
Há algumas publicações sobre tumores induzidos por radiação em humanos e cães. Em gatos, pouco ou nada se sabe – este é possivelmente o primeiro caso de um osteossarcoma radioinduzido reportado nestes animais.
Um gato macho, castrado, com 3 anos de idade foi referido para o Ontario Veterinary College Health Sciences Center, para avaliação da história pregressa, que incluía uma semana de paresia progressiva da cauda. Apesar do exame físico não evidenciar qualquer alteração, a avaliação neurológica permitiu detetar alguns sinais e localizar a lesão na região lombosagrada.
Identificou-se uma massa no canal vertebral, avaliando as imagens de ressonância magnética e colheram-se amostras para análise citológica, a qual confirmou a presença de células fusiformes. Iniciou-se radioterapia de cariz paliativo e foi administrada prednisolona oral durante 42 dias. À terceira semana, a cauda estava totalmente funcional.
Passados três anos, o paciente voltou ao hospital e no exame físico detetou-se uma massa firme no interior da cavidade pélvica. Entre os exames complementares realizados, as imagens obtidas a partir da tomografia computorizada permitiram concluir que muito provavelmente a massa não seria uma reincidência ou metástase decorrente da neoplasia prévia. Realizou-se uma hemipelvectomia com o objetivo de garantir a citorredução e aliviar a obstipação secundária. O período pós-cirúrgico decorreu com normalidade e o doente já era capaz de urinar e defecar normalmente ao fim de dois dias.
A histopatologia permitiu confirmar que a massa se tratava de um osteossarcoma (OSA). A hipótese de que se tratava de um OSA secundário à radioterapia foi suportada pelo facto de serem cumpridos 4 dos 5 critérios estabelecidos para medicina humana nestes casos:
- Desenvolvimento numa área que tinha sido previamente irradiada;
- Crescimento num osso sobre o qual não se sabia haver lesão no momento da radioterapia;
- Diagnóstico histológico de OSA (distinto da massa inicial);
- Baixa prevalência deste tipo de neoplasias na região descrita.
Quase 4 meses após a cirurgia, o animal foi eutanasiado devido ao comprometimento evidente da sua qualidade de vida: além de oligúrico, apresentava obstipação e défices motores nos membros pélvicos.
Não se fez necrópsia, o que poderia ter ajudado a confirmar a teoria da radioindução. No entanto, este estudo realça a importância de considerarmos (ainda que a prevalência seja reduzida) o surgimento deste tipo de tumores em gatos sujeitos a radioterapia. Além disso, a hemipelvectomia demonstrou ser uma técnica cirúrgica eficaz e bem-tolerada quando se pretende uma abordagem paliativa a tumores cuja resseção total não é exequível. Investigar os osteossarcomas em gatos é também fundamental para perceber melhor como abordar este tipo de casos.
Swieton, N. et al. Suspected Radiation-Induced Osteosarcoma in a Domestic Shorthair Cat. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation 2019, Vol. 31(1) 103–106. https://doi.org/10.1177/104063871881212