A fisiopatologia do golpe de calor revisitada

O golpe de calor é uma síndrome letal causada pelo aumento da temperatura corporal. Caracteriza-se pela incapacidade de dissipação de calor durante a exposição a ambientes quentes ou durante exercício físico intenso sob condições de stress térmico.

Esta síndrome já foi descrita inúmeras vezes e em 2017 Bruchim, Horowitz e Aroch escreveram um artigo de revisão que descrevia a fisiopatologia do golpe de calor.

Aqui está um resumo de algumas considerações importantes mencionadas neste artigo.

Fatores Predisponentes:
• Alguns padrões climáticos (p.ex. ondas de calor)
• Elevado peso corporal ou obesidade
• Predisposição racial (p.ex. raças braquicefálicas)
• Falta de exercício
• Falta de adaptação ao stress térmico
• Ambientes quentes e húmidos

Avaliação Sistémica:
• O golpe de calor em cães é descrito como aumento da temperatura corporal acima dos 41oC, com disfunção do sistema nervoso central.
• O stress térmico provoca várias alterações na fisiologia normal do cão, com graves consequências no seu débito cardíaco, distribuição do fluxo sanguíneo e processos metabólicos.
• Com a hipertermia e desidratação, o animal entra em hipotensão e, consequentemente, choque.
• O choque pode levar à isquemia dos principais órgãos e hipoxia dos tecidos. A isquemia e hipoxia intestinal levam à hiperpermeabilidade.
• A hipertermia provoca um desencadear de reações inflamatórias e hemostáticas que acabam por provocar a síndrome de resposta inflamatória sistémica (SRIS), que pode evoluir para a síndrome de disfunção múltipla de órgãos (SDMO).
• A combinação do stress térmico, choque hipovolémico e distributivo, acidose metabólica, disfunção neurológica, endotoxemia e coagulação intravascular disseminada (CID) resultam em complicações graves como a rabdomiólise, danos e disfunção neurológica, insuficiência renal aguda (IRA), arritmia cardíaca, síndrome do stress respiratório agudo (SSRA), danos hepatobiliares, sepsis, pancreatite aguda e CID.

Diagnóstico: Deve ser baseado na combinação da história clínica, sinais clínicos e resultados laboratoriais, e não exclusivamente na presença de hipertermia e/ou alterações neurológicas na admissão.

Tratamento: Deve ser intenso e prolongado, pois muitas complicações têm um início mais tardio e a maioria pode ser um importante fator de risco de mortalidade.

Em conclusão, o golpe de calor em cães é uma condição muito grave que pode ameaçar a vida ou resultar em complicações secundárias severas, tendo uma elevada taxa de mortalidade.

Bruchim, Y, Horowitz, M, Aroch, I, Pathophysiology of heatstroke in dogs – revisited, 2017, Temperature, VOL. 4, NO. 4, 356–370. DOI: 10.1080/23328940.2017.1367457